Logo percebeu que os jovens das famílias mais abastadas necessitavam urgentemente de noções básicas de etiqueta. Fundou então a aristocrática “Escola de Dança de Salão e Boas Maneiras”**, em São Paulo. A dança de salão estava incluída no conhecimento básico de etiqueta, era indispensável na vida social requintada.
Madame Poças Leitão representou a primeira (senão única) e mais importante escola de dança de salão nas classes altas, em contraste com inúmeros professores que atuavam principalmente na periferia de São Paulo e Rio de Janeiro, vários associados às casas de prostituição e/ou bailes populares (mas isso já é outra história, que oportunamente trataremos).
Assim, graças a essa divisão por classe econômica e nível social do início do século, até hoje define-se duas linhas básicas de trabalho e duas histórias da dança de salão paralelas - com alguns pontos em comum, outros contrastantes. Nossa escola, de um lado, procura sempre atualização e modernização, do outro, a influência da Mademe em nosso trabalho é inegável, mantemos viva a prática de gêneros musicais presentes em seu curso, como a VALSA e o FOX. E respeitamos cada gênero musical (ritmo), sua dança, sua origem. Hoje não há mais preconceito com classes sociais, mas o perfil familiar e a elegância permanecem em nossa escola e entre nossos alunos. Com muito orgulho!
Fui aluna da segunda Madame, dona Nice, na verdade nora da primeira Madame. Ela manteve as tradições, ensinou várias gerações a se portarem elegantemente nos salões, e nos últimos anos permanecia verificando nossas unhas (que escondíamos, ah, que unhas roídas...), os lenços nos bolsos dos rapazes, e outros detalhes. Portava um chicotinho, que virou folclore (ela apenas se divertia ameaçando bater em quem dançasse de pernas abertas - e como ela se divertia nas aulas!), já que muitos temiam a punição com o chicote da Madame, antes mesmo de entrarem no curso!
A primeira Madame Poças Leitão parou de dar aulas em 1966 e morreu em 1974, aos 90 anos de idade. A segunda, minha professora, também faleceu com bastante idade (efeito da dança de salão?), em 1995. Hoje Eduardo, filho de Dona Nice, mantém a tradição viva com sua esposa Silvia - chamada carinhosamente de “Madaminha” - no Instituto Mizuki, no Itaim-Bibi e outros pontos de São Paulo.
(*) Carla Salvagni (foto ao lado) é professora de dança de salão em SP, dirige a Cooperativa de Dança Carla Salvagni e é presidente da Confederação de Dança Esportiva. No SBT, participou como jurada técnica dos programas Bailando por Um Sonho e I Campeonato SBT de Dança. Ilustrando a matéria, acima, foto de Miguel Cavallero tirada em jul/93, em que aparecem Carla, Chico Peltier e Mme Nice, em show dos campeões de dancesport, no Hotel Mofarrej, São Paulo.
(**) O Curso de Danças e Boas Maneiras Madame Poças Leitão continua em plena operação e acaba de completar 91 anos de existência.
(***) Este depoimento integra o ejornal da Coop. de Dança Carla Salvagni e também foi publicado na ed. 71 do Dance News.
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