Um chorinho chamado Odeon, um compositor chamado Ernesto Nazareth: IMS festeja os 150 anos do músico com recital e simpósio
Aos
44 anos, Ernesto Nazareth conseguiu emprego como terceiro
escriturário do Tesouro Nacional. Antes mesmo de fazer as provas
para sua efetivação, porém, desistiu do trabalho: não aguentaria
um dia-a-dia longe de sua maior paixão, a música. E foi esse amor e
dedicação a força para que o carioca compusesse nada menos que 211
obras, entre tangos, valsas, polcas, sambas e outros gêneros. Esse
grande legado é celebrado pelo Instituto Moreira Salles (IMS), na
programação especial de aniversário de 150 anos de Nazareth, que
seria completado no próximo dia 20 de março.
Tradicional centro de pesquisa e acervo da obra do compositor, o IMS já vem preparando as comemorações para a data desde o ano passado, com lançamento do site Ernesto Nazareth 150 Anos. Em 2013, as celebrações começam com um recital de André Mehmari, no dia 19/03. Na ocasião, Eudóxia de Barros, pianista dedicada à divulgação da obra de Nazareth, e a pesquisadora Mercedes Reis Pequeno, fundadora da Divisão de Música da Biblioteca Nacional (Dimas), ganharão uma homenagem.
Em seguida, nos dias 20 e 21/03, o IMS recebe um simpósio especial, visando promover e incentivar reflexões acadêmicas sobre o legado do compositor. Estarão presentes pesquisadores e professores da USP, UNIRIO, UFPE, UFF, UFRJ, ISERJ e da Universidad Distratal de Bogotá, além de representantes do próprio IMS e do Museu da Imagem e do Som, entre outras instituições mais tradicionais no estudo de Nazareth. “Nossa preocupação permanente é manter Ernesto Nazareth na pauta das discussões. Por isso esses encontros com professores, pesquisadores, enfim, formadores de opinião, são importantes, para que o resultado disso seja depois divulgado para o público”, diz Bia Paes Leme, coordenadora do acervo de música do IMS e organizadora do site comemorativo.
Para
todos os gostos
Pianista
virtuoso, Ernesto Nazareth teve as primeiras aulas ainda
criança,ensinado pela mãe, Carolina. Aos 14 anos, escreveu sua
primeira composição, uma polca-lundu intitulada Você Bem Sabe,
dedicada ao pai, o despachante Vasco. Envolto no mundo fascinante das
notas musicais, Nazareth iniciou um estilo próprio que conseguia
sucesso entre os mais diferentes públicos. “Talvez ele tenha sido
o primeiro compositor brasileiro a unir o erudito e o popular. O
erudito veio de sua formação em piano clássico. A isso, ele
juntava tudo o que via no ambiente urbano do Rio, onde havia muita
riqueza devido à mistura entre as culturas europeia e africana”,
diz Bia Paes Leme. “Sem querer, Nazareth acabou criando um problema
para a musicologia: até hoje se discute se ele é erudito ou
popular. Mas a verdade é que isto não tem muita importância. O que
é indiscutível mesmo é a alta qualidade de suas obras”.
No vídeo abaixo Eudóxia de Barros interpreta Brejeiro, uma das mais conhecidas composições de Nazareth. (Crédito: Artmanhas do Som)
Além
da habilidade para juntar estes dois ramos, que muitos dizem
antagônicos, Nazareth tinha uma forte sensibilidade para imprimir o
Brasil em suas composições. “Ele funda uma vertente na produção
musical que continua até hoje, que é uma preocupação com pôr
algo de brasilidade na música. Isto mesmo antes do surgimento de
movimentos como, por exemplo, a Escola Nacionalista de Mário de
Andrade”, continua a coordenadora. Brasilidade esta que não
impediu o público de fora do país de apreciar sua obra: o tango
Brejeiro, por exemplo, foi gravado pela Banda da Guarda Republicana
de Paris em 1894, atingindo sucesso internacional.
Trabalho
muito além dos 150 anos
De produção vastíssima – foram mais 200 composições até sua morte, em 1934 -, Ernesto Nazareth guarda alguns tesouros pouco conhecidos. “De todas as suas composições, cerca de 40 são conhecidas, outras 100 são mais ou menos e umas 50 estão totalmente no escuro.
Neste meio de obras não tão populares,
existem algumas perólas, com um potencial interpretativo muito
grande”, diz Bia Paes Leme, que cita as composições
Eulina,Cacique, Furinga, Julita,Menino de Ouro e Tupinambá como um
dos destaques desse Nazareth pouco lembrado.
Para levar essas pérolas ao grande público, o IMS mantém um trabalho em duas frentes, que vai aos poucos sendo divulgado no site comemorativo: primeiro, uma cuidadosa revisão de sua obra, com o conserto de erros musicais nas partituras lançadas até hoje. E, em seguida, é feito o lançamento de versões melodia-cifra. “Assim, as partituras podem ser tocadas por outros instrumentos além do piano, seja violão, grupos de choro, flauta, instrumentos de corda, entre outros. Isto também é de grande valia para tornar a obra de Nazareth mais conhecida”.
Veja a programação completa AQUI
Fonte: Secretaria de Cultura
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