Uma vitória da classe da dança carioca: veja aqui um resumo das articulações políticas este ano em prol da dança
(Mensagem ao Leitor da edição de novembro do Jornal Falando de Dança, assinada por Antônio Aragão)
Terminou no domingo dia 25/10 a I Conferência Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, em que foram discutidas e aprovadas propostas em relação às políticas públicas para o setor cultural, propostas essas que seguirão sendo discutidas e avaliadas a nível estadual (Conferência Estadual, marcada para 14 e 15/12) e nacional (marcada para março de 2010), até que finalmente seja aprovado o Plano Nacional de Cultura.
Numa iniciativa inédita, o poder público municipal deu oportunidade para que a sociedade participasse desse processo e para que os segmentos culturais da cidade elegessem parte de seus delegados municipais. Representando o Jornal Falando de Dança, acompanhei de perto todo esse processo (reportado aos nossos leitores através do site, do jornal e de nossas Newsletters) e devo dizer que fiquei muito feliz em constatar que a classe da dança carioca não deixou desperdiçar a chance de participar, oferecida pelas autoridades municipais. Mais ainda, porque pude também participar e dar minha contribuição. E como integrante da comunidade da dança de salão carioca, comemoro o fato da dança social do Rio de Janeiro ter entendido a importância desse momento e se envolvido efetiva e eficazmente nesse processo político.
Segue abaixo um histórico dos últimos acontecimentos.
Reuniões Setoriais da Dança Carioca
Profissionais da dança de todas as estéticas promoveram freqüentes reuniões no Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro para discutir os rumos da nossa arte e para se preparar para as Conferências da Dança.
Entre as conquistas nas Setoriais, citamos a conclusão da redação do documento com as necessidades da dança, que foi levado a plenário e serviu muitas vezes de base de discussão nas conferências. E, fato importante, a conquista de espaço pela dança de salão, com a indicação do professor Luís Florião para disputar o cargo de delegado municipal de cultura.
Conferência Municipal de Cultura
Ao propor o Plano Nacional de Cultura, que visa a interligar União, Estados e Municípios, veio junto a necessidade de se conhecer um pouco melhor as realidades locais. Para isso estão acontecendo conferências em milhares de municípios. Alguns municípios vêm realizando conferências há algum tempo, mas a despeito da importância da cidade do Rio para a cultura brasileira, acabamos de realizar a primeira. Assim, tivemos recentemente 17 Pré-Conferências (em todas as regiões da cidade) e a Conferência, ocorrida nos dias 24 e 25/10/09.
Questões levantadas pelos participantes
As conferências foram muito complicadas, tendo problemas reconhecidos e creditados pela própria Secretária de Cultura, Jandira Feghali, ao fato dessa ser a primeira.
Sem fazer juízo de valor, reportamos as críticas dos participantes com o intuito da organização poder analisar dentre as questões levantadas, quais são pertinentes e passíveis de se solucionar para as próximas oportunidades.
Uma das queixas mais comuns era a respeito de informação, como por exemplo que a divulgação foi pouca, que as informações não estavam claras, que estavam desencontradas e que o pessoal de apoio estava com dificuldade de dar informações. (Fazemos aqui um parênteses, para questionar porque o setor cultural da cidade não se utiliza da imprensa especializada para fazer essas divulgações, uma vez que a cidade tem a maior quantidade de jornais, revistas e sites dirigidos ao segmento cultural)
Também ouvimos muitas pessoas reclamando de atrasos, da falta de isenção de algumas mesas, da falta de aprovação dos textos destacados, da falta de arrumação dos textos e corte de propostas vindas das pré-conferências.
Além de tudo isso, para desespero de muitos, mudança de regras no decorrer do jogo, como por exemplo, quando o regulamento divulgado no site e distribuído a todos foi desrespeitado, impedindo que pessoas inscritas com antecedência votassem dia 25 (pior ainda, que pela falta de controle, houve votação por pessoas não credenciadas na conferência com o crachá das pré-conferências), ou quando mudaram a decisão da plenária completa de sábado, que decidiu que seria possível ter mais de um representante por segmento (o que inclusive permitiria que tivéssemos um segundo delegado da dança).
Reuniões longas e desgastantes
Na platéia, muita gente sem nenhuma noção do que estava acontecendo (deveria ser obrigatório ter participado de pelo menos uma pré-conferência), contrastou com grupos acostumados a esse tipo de embate, como os movimentos negros e grupos ligados a partidos de esquerda - grupos freqüentemente exaltados e que atrapalharam bastante a fluidez dos trabalhos.
Vitória
Apesar de muita confusão e reviravoltas, a dança de salão se fez ouvir. Demonstrou que com tanta tradição, conquista e quantidade de praticantes, pode e deve ser ouvida. Também importante ressaltar que a dança, enquanto classe, foi a mais organizada – tendo sido, inclusive, um dos grupos mais coesos e com o maior número de participantes, entre todos os outros do segmento cultural.
Nesse aspecto orgulho-me da participação do Jornal Falando de Dança, esclarecendo, fazendo contatos pessoais com os profissionais da dança, numa verdadeira campanha pela participação do maior número possível de dançarinos, bem como o apoio dado ao professor Luís Florião, que com inegável habilidade soube conquistar parcerias com pessoas vindas de diversos segmentos culturais, como dos movimentos sociais, da produção, da cultura popular, unindo forças e somando votos, o que permitiu uma chapa de coalizão com Denise Acquaroni (do Sindicato dos Profissionais da Dança do RJ) como delegada e o próprio Florião, (presidente da Associação Nacional de Dança de Salão - Andanças), como suplente.
Próximos passos
Agora, os delegados ajudarão a transformar as diretrizes propostas em ação para os próximos dez anos.
É certo que não é um posto de decisão, onde as coisas serão mudadas na prática, mas é mais uma instância onde se ouvirá falar de dança e onde teremos oportunidade de defender os interesses da classe.
A dança de salão mostrou que está atenta e interessada. E que uma pequena, mas eficiente, mobilização já deu resultado. Agora é procurar manter a chama acessa.
Fotos hospedadas no Picasa (clique no ícone abaixo para acessá-las).
24-10-09 conf municipal de cultura |
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