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Lindy Hop

“Tudo começou no Savoy Ballroom, no Harlem, em 1926.”

Professora e coreógrafa de Lindy Hop, Flávia Monteiro se especializou no ritmo com um dos maiores dançarinos do gênero: Frankie Manning, hoje com 93 anos. Começou a ministrar aulas nos Estados Unidos e, de volta ao Brasil, há um ano, procura difundir o Lindy Hop, dando aulas em várias academias no Rio de Janeiro. Preparando-se para um evento de divulgação do Lindy neste fim de semana, em Ipanema, a professora nos concedeu a presente entrevista, em que nos fala a respeito dessa dança e de sua carreira profissional.


Falando de Dança: Pode nos contar um pouco sobre a história do Lind Hop?
Flávia: No final da década de 20, mais precisamente 1926, o Lindy Hop começava a espalhar suas sementes pelos salões do Harlem, uma comunidade negra de Nova York. Dançarinos do Savoy e de outros salões de dança da época contagiavam multidões dançando ao som das grandes orquestras e grandes nomes, como Duke Ellington, Cab Calloway e Count Basie. Mas foi no Savoy Ballroom que o Lindy Hop recebeu este nome, inspirado em Charles Lindbergh, o piloto que cruzou o Atlântico num vôo solo pela primeira vez.
O Lindy Hop surgiu da fusão de vários elementos de danças e, assim como o Jazz, reflete uma mistura de ritmos africanos e europeus. O Lindy tem raízes africanas que se refletem na postura dos dançarinos, que têm como base o chão e o peso corporal sempre para frente. Porém o Lindy também demonstra a influência européia, sendo uma dança baseada numa estrutura de 8 tempos com variações de 4 e 6 tempos.
Um dos maiores dançarinos de Lindy Hop da história, Frankie Manning, criador de vários passos, inclusive o primeiro passo aéreo em 1935, diz que “no Savoy dançava se Charleston individualmente e que gradualmente ele foi incorporado ao Breakaway. As duas danças se uniram e formaram o Lindy Hop.” O Breakaway logo desapareceu, deixando os salões cheios de dançarinos entusiasmados com a alegria transparente do Lindy hop. O Lindy contagia com sua característica entusiasmaste, refletindo a musicalidade do Jazz e seus instrumentos mais elaborados. Caracterizado pelo divertido efeito abre-fecha do casal, apresenta variados passos onde se pode notar uma forte presença do caráter improvisativo do jazz, tanto no lindy de salão, como no lindy performático.

Falando de Dança: O Lindy é uma dança antiga e agora está “na moda” em vários lugares do mundo, inclusive com alguns professores especializados aqui no Brasil. Como/quando aconteceu esse ressurgimento?
Flávia:
O Lindy hop ficou adormecido durante várias décadas, até que nos anos 80 voltou à tona em várias cidades dos Estados Unidos e da Europa. Frankie Manning, que na época trabalhava nos correios de Nova York, foi descoberto por dançarinos e pesquisadores do ritmo swing, como Steven Mitchell, Erin Stevens, Ryan François e Lennart Westerlund. Frankie decidiu ajudar os “pobres dançarinos”. De lá para cá o Lindy vem ganhando espaço nas maiores cidades do mundo, reunindo dançarinos em vários workshops.

Falando de Dança: Você me falou que participou do Herrang Dance Camp. O que vem a ser esse evento?
Flávia:
Herrang Dance Camp é um workshop que acontece anualmente em Herrang, uma pequena cidade da Suécia. Pela segunda vez, este ano, eu participei do festival, onde dançarinos de Lindy hop, Balboa, Jitterbug, e sapateado do mundo inteiro se reuniram para comemorar os 25 anos de existência do evento, o maior festival internacional de dança do mundo.

Falando de Dança: Como você descobriu esse ritmo?
Flávia:
Eu comecei a dançar Lindy Hop em 1999, quando visitava amigos na Suíça. Meus amigos me convidaram para fazer uma aula iniciante de Lindy hop, onde aprendi o “Swingout,” passo básico e a alma do Lindy hop. Imediatamente me apaixonei pelo ritmo, dança e música, o que mais me encantava. A partir daí minha vida mudou. Comecei a dançar Lindy quase todos os dias. Trabalhei num salão de Lindy, participei dos eventos, bailes, workshops, e passei três semanas em Herrang, o maior festival de Lindy hop do mundo. Em julho de 1999 cheguei ao festival pela primeira vez. Mais ou menos 500 pessoas visitam o festival semanalmente. Lá tive o privilégio de conhecer os melhores dançarinos de Lindy do mundo. Alguns deles viriam a ser meus professores e mentores: Frankie Manning, o pai do lindy, Lennart Westerlund, Steven Mitchell, Catrine Ljunggren, Ryan François e Denise Steele.

Falando de Dança: E quando começou a dar aulas?
Flávia:
Em fevereiro de 2000 me mudei para os Estados Unidos, onde fui morar com Denise Steele, professora, coreógrafa e dançarina de Lindy Hop e Swing há quase 20 anos. Denise realizava workshops com Frankie Manning anualmente, nos quais participei como parte da organização e aluna. Com Frankie ganhei mais do que alguns passos; eu aprendi a apreciar a arte do movimento e do ritmo. Tê-lo como professor me inspirou tanto que em 2002 eu comecei a dar classes de Lindy Hop nos Estados Unidos.

Falando de Dança: Pode nos falar mais sobre Frankie Manning?
Flávia:
Frankie Manning é sem dúvida a maior inspiração de Lindy Hop ainda existente. Frankie tem 93 anos, e ainda viaja o mundo ensinando e inspirando as novas gerações de dançarinos. Ele está presente em quase todos eventos de Lindy Hop, e encanta a todos com sua determinação, paixão e incríveis histórias. Frankie morou no Rio de Janeiro nos anos 40 quando dançava com o grupo Whitey’s Lindy Hoppers, fazendo apresentações de Lindy Hop no Cassino da Urca e de Icaraí. Este ano, em Herrang, Frankie me contou algumas de suas histórias e lembranças do Rio, e me disse que adoraria voltar ao Brasil, e ver o Lindy hop acontecendo.

Falando de Dança: E como está o Lindy aqui no Brasil?
Flávia:
O Lindy no Rio continua bem devagar, mas, como Frankie, espero poder ver várias pessoas dançando lindy em breve. Há um ano estou de volta ao Brasil, e meu desejo é promover esta dança tão cheia de energia e vida.

Falando de Dança: Para isso você está organizando um evento neste fim de semana, não é?
Flávia:
Este sábado realizarei uma apresentação de Lindy Hop entre 11:00 e 13:00, Rua Visconde de Pirajá, 318, esquina com a Joana Angélica. No domingo também estaremos realizando o evento “Lindy na Praia”: dançarinos de lindy se encontrarão no calçadão da praia de Ipanema, perto do Arpoador, pra dançar de 16:00 às 18:00. O plano é: levar o som, ligar a música e dançar.
N.R.: Devido ao mau tempo o evento de sábado foi cancelado. O de domingo, permanece agendado. A idéia é repetir o Lindy Praia pelos dois próximos meses, sempre aos domingos, de 16:30 às 18:30h (ver telefone da Flávia Monteiro ao final desta postagem).

Falando de Dança: Para quem se interessar pelo ritmo, onde poderá aprender?
Flávia:
Começarei turmas iniciantes no mês de outubro, nas academias Ginga Carioca (sextas, 18:30h), Anna Moura Ipanema (segundas e quartas, 12h, e sextas, às 16h) e Anna Moura Barra da Tijuca (terças, 20h). Na Ac. Ginga Carioca também tem o professor Charles, um francês que dá aulas não só de Lindy mas de outros ritmos americanos de swing, como Balboa, Charleston, Collegiate Shag. As aulas dele são aos domingos. Também temos os professores Mauro Lima e Adriana Aguiar que ensinam Ritmos Americanos no Rio de Janeiro, entre eles, Lindy Hop, Rockn'Roll e Fox. Eles ensinam em seu espaço de aulas, Casa do Poeta - Rua Cosme Velho, 599 - Cosme Velho.

Falando de Dança: Nas fotos que você me forneceu para ilustrar nossa matéria, aparece você dançando com Frankie Manning e um outro cavalheiro...
Flávia:
O nome do cavalheiro dançando comigo é Gastón Fernández. Foi tirada no Herrang Dance Camp 2007. Ele é professor em Buenos Aires e organiza um evento muito legal, chamado Lindy Hop Argentina International Festival. Em dezembro, este ano nos dias 14, 15 e 16. Fui no ano passado, e irei de novo este ano. Muito legal!

Saiba mais:

A seguir alguns vídeos recomendados pela Flávia, uns para salão, outros para shows:

Com Frankie Manning, "Hellzappopin", de 1941

West Coast Swing, um dos ritmos que também surgiram do Lindy Hop: Jordan Frisbee & Tatiana Mollmann, na apresentação que tirou o primeiro lugar de sua classe, no US Open Swing Dance Championship, em 2005 (sensacional):

Final de um evento, Showdown, que acontece todos os anos nos Estados Unidos (“Pra mim, sem dúvida um dos melhores que há!”)

Kevin e Carla, dançando ao som de Bei Mich bist du schoen

Kevin St Laurent e Juan Villafañe, executando um Lindy Hop acrobático ao som da banda The Carling Family Band no Herrang Dance Camp 2007.

Agora os favoritos aqui da editora:

Pegue seu par e aprenda a dançar lindy hop. Mas não pague mico como esta aqui (he,he,he):


O Lindy é muito popular nos eventos dançantes europeus. Veja aqui uma roda de amigos numa academia de dança:

E quando você estiver bem fera, poderá até dar um show como este!

Comentários

Tan disse…
Do you know where I can Lindy Hop in Sao Paulo?

Voce conhese eu posso dancar Lindy Hop em Sao Paulo? Eu estou novo em Sao Paulo.
Tan disse…
Voce conhese onje eu posso dancar Lindy Hop em Sao Paulo?

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