
E pensa que está dançando zouk!
Por Roberto e Lana, de Belém do Pará*, em artigo publicado na ed. 79 do Dance News
A dança zouk é de origem africana, levada pelos escravos para as colônias francesas da América Central, principalmente para Martinica e Guadalupe. Como o ritmo ficou conhecido a partir daí, muitos pensam que é de origem francesa. Já no Brasil utilizamos a música zouk para dançar uma dança 100% brasileira, a lambada. Não a lambada original, é verdade, que era dançada, em seus tempos áureos, em andamento muito mais rápido que na música zouk. Com o tempo, e o declínio da moda da lambada, uma febre nos anos 80, seus movimentos foram adaptados para vários ritmos de andamento mais lento. Hoje em dia se dança lambada não só com música zouk mas também com hip hop, algumas músicas espanholas, reggae, algumas músicas árabes, etc. E não é só aqui no Brasil que isso acontece: os movimentos da lambada são executados em diversos países, principalmente na Europa onde temos vários brasileiros lá estabelecidos que se encarregam de manter a chama acesa. Infelizmente, por questões comerciais, nem sempre o nome original é mantido.

Muitos pensam que a lambada se desenvolveu na Bahia, mais precisamente em Porto Seguro. Isso é tão difundido, no Brasil e no exterior, que o Congresso Internacional de Zouk e Lambada, organizado por professores brasileiros estabelecidos em Londres, foi realizado pela segunda vez naquela cidade bahiana. Mas a lambada na realidade teve sua origem no estado do Pará, tanto como música quanto como dança.
O nome
O termo lambada era expressão popular da periferia de Belém. Na década de 70, em um programa popular da rádio de Belém, o radialista Haroldo Caracciolo, quando colocava os merengues caribenhos para tocar, falava “aí vai mais uma lambada”, nesse caso com a idéia de pancada, devido à velocidade no andamento dos merengues. Com o tempo, associou-se à dança pela velocidade que se dançava.

A música lambada
No ano de 1976, um músico conhecido em Belém como Mestre Vieira gravou o primeiro disco de lambada com o título “Lambada das Quebradas”. Vieira criou o ritmo misturando músicas caribenhas e paraenses como merengue, carimbó, salsa e síria. Outros músicos que também desenvolveram a lambada em Belém foram Mestre Cupijó, Manezinho do Sax, Mestre Verequete, Pinduca e outros.
A dança lambadaComo o estado do Pará está próximo do Caribe, as influências foram as mais diversas. Muitos estrangeiros vindos do Caribe chegavam em Belém através de barcos de madeira (típicos na região norte) para vender produtos contrabandeados. Mercadoria vendida, gastavam parte do dinheiro nos bordéis da periferia de Belém, à margem da Baía de Guajará. Dentro desses bordéis, eles dançavam suas danças típicas, que eram assimiladas e mescladas com as danças paraenses, resultando na dança lambada. Isso na década de 70, ao som dos mais diversos ritmos, já que eles traziam suas músicas para tocar nas aparelhagens da época. Como resultado dessa mistura de cultura também surgiu o merenge paraense.
A lambada conquista o nordeste e o país Beto Barbosa era descencente de família de comerciantes de Belém. Beto tinha um sonho: tornar-se cantor famoso. Suas primeiras tentativas foram frustrantes, seus primeiros discos não emplacaram. Só em 1988, com a música Adocica, ele conheceu o sucesso. No final da década de 80, Beto Barbosa vai para o nordeste para tentar decolar na carreira de cantor e leva a lambada na mala. Ele conseguiu grande sucesso sobretudo em Porto Seguro. Daí, então, a lambada espalhou-se para o resto do país. E para o mundo.
Grupo Kaoma
Os franceses Olivier Lorsac e Jean Karakos foram os responsáveis pela criação da banda. Após passar férias na Bahia, Lorsac teve a idéia de apresentar a lambada à Europa, em 1989. Reuniu, com a ajuda de Karakos, um grupo formado por instrumentistas da França, backing vocals do Senegal e vocalista e dançarinos do Brasil. A misturada deu o Kaoma, que se tornou conhecido com as músicas Lambada e Dançando Lambada, além

Adaptar-se para se expandirO sucesso da lambada fez a fama de muitas bandas, cantores e dançarinos mas com o tempo a moda passou e a música entrou em declínio. A dança, porém, permaneceu em evidência e permanece até hoje. Foi sendo adaptada a outros ritmos mais lentos até chegar à música zouk e a músicas espanholas, que permitem uma fácil execução de seus movimentos. Com o passar do tempo, por uma questão comercial, passaram a rotular essa dança como lambada-zouk, zouk-lambada ou simplesmente zouk. Porém os movimentos basicamente são os mesmos da lambada, hoje com algumas mudanças na linguagem corporal, devido à influência de outros ritmos, como o funk. Mas, para nós aqui do Pará, ela continua a ser a nossa lambada.
“Toda lambada que não levar o nome do Pará será castigada”
(Mestre Verequete, um dos maiores divulgadores da cultura paraense, hoje com 91 anos de idade).
(*) Roberto e Lana são professores de dança em Belém do Pará
Leia também:
- Lambada: vamos defender esse nome! (artigo de Luis Florião)
- A história da lambada, por Chico Peltier
Para conhecer mais sobre as músicas da região norte (merengue, tecnobrega, breca, calypso, zouk, lambada etc) e assistir vídeos das bandas locais, como Calypso, acesse a rádio virtual Amazônia FM (http://www.amazoniafm.com)
Assista também:
- A uma demonstração de lambada com Jaime Arôxa e Bianca Gonzalez
- E de lambazouk, com nossos profissionais estabelecidos na Europa: Adílio Porto (com Vicky) e Claudio Gomes (com Renate Nijland).
- O clipe do Kaoma gravado para o Fantástico na década de 90.
- Dançarinos do Kaoma ensinando os passos básicos da lambada (parte do vídeo "Lambada Dance Party" de 1991).
E assista ao clipe que gravei com o depoimento de Roberto e Lana sobre a influência dos passos de danças regionais na dança de salão:
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