Maria Antonietta, destaque da edição de maio do Jornal Falando de Dança (ed. 19)
Uma homenagem do Falando de Dança a essa pessoa de aparência frágil mas de energia contagiante, que tanto contribuiu para que a dança de salão, obscurecida pela dança solta das discotecas, voltasse à luz dos holofotes*
Entrei para a comunidade da dança de salão há dez anos. Cruzava sempre com Antonietta nos bailes da Estudantina ou da academia no Catete que levava seu nome. Somente há quatro anos, porém, quando comecei a atuar em cobertura de eventos, é que tive a oportunidade de conhecê-la melhor e fazer-lhe algumas visitas, para pesquisas de campo. Ela, sempre sorridente e solícita. Mas o que mais me chamava a atenção era sua disposição física e acuidade mental. Impressionava-me, sobretudo, nas nossas conversas, sua memória para datas e pessoas, e seu conhecimento da história da dança.
.
Sua vida difícil e seu curriculum, eu já sabia quase de cor, pelo acesso constante a livro, revistas, jornais e sites que lhe faziam referência. E tive a oportunidade, na edição de abril/2008 deste informativo, de publicar trechos de sua interessantíssima entrevista ao Jornal Dance, de São Paulo (feita no ano de 1997, quando foi capa daquele periódico). No entanto, fui saber outros pequenos, mas importantes, detalhes de sua vida profissional e pessoal ao conversar com pessoas mais próximas a ela, durante seu velório, dia 07/04. Por sua filha mais velha, Ana Cristina, mais conhecida como Aninha, que juntou-se à mãe na profissão, por 14 anos, fiquei sabendo sobre o dia em que Antonietta apresentou sua neta, Cristiane, então com apenas 5 anos, ao público presente à extinta domingueira do Circo Voador. Depois que Cristiane se apresentou, muitos pais começaram a se interessar em contratar aulas de dança para seus filhos, o que até então não era costume, contou-me Aninha. Já Anita Cavalcante, dançarina que sempre se juntava à Antonietta nos bailes de sábado da Estudantina, contou-me, emocionada, sobre o discurso que Antonietta fez a respeito da morte de seu filho, Arthur, falecido na quarta-feira daquela semana. Na ocasião, a mestra falou sobre sua dor pela perda do filho e sobre sua decisão de estar ali, no salão de baile, dias depois, pois, para ela, a dança era seu grande conforto (“enquanto houver dança, haverá esperança”, falou Antonietta, citando o Estatuto da Gafieira afixado à entrada da Estudantina).
.
E, assim, fui colhendo mais alguns pedacinhos do quebra-cabeça que constituiu a vida da Antonietta, cheio de histórias e acontecimentos. Quebra-cabeça esse que Isidro Fernandez, proprietário da Estudantina, onde a mestra deu aulas por mais de duas décadas, promete completar em breve, com a publicação de suas memórias.
.
Já me despedindo dos familiares, fui apresentada a um amigo da família, incumbido, no passado, de entregar à Antonietta o laudo de seus exames, que apontava para um sério problema cardíaco. Contou-me ele que o envelope com o laudo ficou vários dias no bolso de seu paletó, até ganhar coragem para entregá-lo. Ao ler o laudo, Antonietta lhe disse que a dança lhe daria forças e que ela não morreria tão cedo. “Os médicos lhe davam 4 meses de vida, ela viveu mais 20 anos”, declarou, despedindo-se pela última vez da velha amiga.
.
O corpo de Maria Antonietta Guaycurus de Souza foi velado no salão de baile da Estudantina Musical, como era seu desejo, e foi sepultado no dia seguinte, no Cemitério São Francisco de Paula, no Catumbi.
_________________________________________________
*Reprodução da Mensagem ao Leitor da edição 19 do Jornal Falando de Dança, por Leonor Costa, editora do Jornal Falando de Dança e do Blog Falando de Dança
- Clique aqui para acessar outras postagens deste blog sobre Antonietta.
- Aqui, postagem especial, do baile em sua homenagem, ano passado, ao final da qual há vídeos com entrevistas e apresentações.
- Aqui, blog de Marco Antonio Perna / Agenda da Dança de Salão, com mais textos sobre Antonietta.
- Aqui, vídeo de uma das últimas entrevistas de Antonietta, a Marco Antonio Perna, feita em janeiro deste ano.
- Aqui, site de Maria Antonietta, com detalhes de sua biografia (por Marco Antonio Perna), mais fotos.
- Aqui, entrevista de Antonietta, de 1999, à jornalista Maria Lúcia Silva Martins (também reproduzida na edição de maio do Jornal Falando de Dança).
Velório de Maria Antonietta no salão de baile da Estudantina Carioca, batizado com seu nome: palco de grandes momentos de sua vida, a mestra sempre externou o desejo de ali ser velada.
Dentre os presentes, Carlinhos de Jesus, Jaime Arôxa e a novelista Glória Perez.
Nas fotos, as coroas de flores enviadas pelo Circo Voador, pelo Clube dos Democráticos, por Carlinhos Maracanã e Geraldo Lima e pelo Jornal Falando de Dança.
Foto dos filhos e familiares de Antonietta. As quatro filhas à frente, com a irmã gêmea de Antonietta, Lourdes Piccoli.
Comentários