Na edição de dezembro de 2012, publicamos matéria com o
título "Incertezas com as mudanças de titulares das secretarias
municipais", em que nos mostrávamos apreensivos com a troca do titular da
Secretaria Municipal de Cultura: Emílio Kalil (ex-diretor do Grupo Corpo e dos
teatros municipais do Rio e de São Paulo, portanto com forte vínculo com a
dança) fora substituído por Sérgio Sá Leitão (especializado em audiovisual e
que acumularia a função com o cargo de diretor da RioFilme).
Quando Emílio Kalil assumiu a SMC, ele recebeu
representantes da dança que lhe municiaram com dossiês sobre as reivindicações
do segmento e a necessidade de levar adiante a efetivação do Conselho Municipal
de Cultura.
Consequência ou não, o fato é que na gestão de Kalil a dança obteve
avanço significativo na área de políticas públicas: Denise Acquarone foi eleita
para o Conselho Municipal de Cultura, representando a dança; foi criada a
Gerência de Dança, tendo como titular Diana De Rose; foi lançado um Fundo de
Apoio à Dança (Fada); o CCoRJ abrigou projetos de variadas linguagens da dança
(inclusive congressos, mostras e espetáculos de dança de salão); e trabalhou-se
pela memória da dança, com lançamento de livros apoiados pela SMC e com a
exposição Rio Dança no CCoRJ (na qual a dança de salão teve grande destaque).
Porém, os movimentos ligados à dança relaxaram a pressão
(nem vou comentar sobre a dança de salão, que nunca se manifesta a respeito,
numa alienação preocupante), e não se deram conta do risco com a troca do
titular da SMC, que agora extinguiu a gerência de dança, enxugou ainda mais a
equipe do CCoRJ e periga reformular os Fundos de Apoio, Fada inclusive. Isso,
somado à decisão da Prefeitura de fazer um pente fino nos itens de segurança
dos equipamentos culturais, está agora movimentando os artistas cariocas, que
se mobilizam através do Reage Artista e do Reage Dança (vejam matéria a
respeito nesta edição).
A mobilização da classe da dança, pelo que presenciei na
reunião do Reage Dança do dia 20/02, é justa e conta com uma nova geração de
artistas esclarecidos, interessados em fazer acontecer. Porém, como bem disse
na ocasião a coreógrafa Márcia Milhazes, estamos discutindo novamente problemas
que já foram levantados há 20 anos e não podemos ficar indefinidamente à mercê
da boa vontade do secretário de cultura da vez.
Devemos pressionar, sim. Reivindicar junto ao novo
secretário de cultura, sim. Mas devemos também nos manter mobilizados e exercer
pressão para que nosso conselho municipal de cultura esteja de fato funcionando
e exercendo suas atribuições. Para que estejamos resguardados por políticas de
Estado e não à mercê das políticas de governo.
E você, leitor, que vive da dança, não deve se alienar e
deixar que os outros trabalhem para valorizar o seu ganha-pão. Ao menos procure
se manter informado e atenda à convocação quando as manifestações públicas se
fizerem necessárias. Participe, nem que seja fazendo figuração no meio da
multidão.
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Antonio Aragão é diretor do JFD
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