A grande maioria dos dançarinos de hoje certamente desconhece que o sobrado histórico da Rua do Teatro 37 (esquina com Praça Tiradentes), onde funciona a casa de shows do Centro Cultural Carioca (não confundir com a dos bailes de dança de salão, que fica na Sete de Setembro), abrigou um dia um famoso "dancing" - o Dancing Eldorado, nas décadas de 40 e 50.
Para quem não sabe, naquela época praticava-se dança de salão em pelo menos quatro ambientes diferentes, no que diz respeito ao nível social e às intenções, digamos assim.
Havia os clubes sociais, onde as famílias compareciam para verem e serem vistas, introduzindo no âmbito social seus membros mais jovens (uma forma, aliás, de futuros pretendentes se conhecerem).
Havia os clubes sociais, onde as famílias compareciam para verem e serem vistas, introduzindo no âmbito social seus membros mais jovens (uma forma, aliás, de futuros pretendentes se conhecerem).
Havia as gafieiras, frequentadas majoritariamente por casais e grupos de amigos(as) que lá compareciam para dançar, pelo prazer da música e, também, para, quem sabe, encontrar sua "cara metade". "Naquela época não se conseguia distinguir, pela aparência, a classe social das pessoas, tamanho era o capricho na apresentação. Empregadas domésticas pediam às patroas roupas emprestadas para irem às gafieiras. Os homens não entravam se não estivessem de terno e gravata. E muitos casamentos aconteciam a partir desses encontros", declarou-me em entrevista o espanhol Isidro, dono da Estudantina Musical (mas esse material estou guardando para outra postagem).
Havia também os cabarés, que tinham salão de dança, mas onde se explorava a prostituição.
Havia também os cabarés, que tinham salão de dança, mas onde se explorava a prostituição.
E, finalmente, havia os dancings, que poderíamos (mal) comparar aos bailes de fichas de hoje em dia. Naquela época, como as mulheres não saíam tanto desacompanhadas, a escassez era o contrário do que é hoje. Ou seja, havia mais homens que mulheres, meninas!!! Assim, os cavalheiros que queriam simplesmente dançar, descompromissadamente, iam a esses locais onde encontravam show com música ao vivo e dançarinas contratadas pela casa para dançarem com os clientes.
Tanto músicos como dançarinas trabalhavam impecavelmente vestidos e com carteira assinada. As dançarinas possuíam uma cartela que era perfurada ao final de cada dança, para controle da casa. "Eu trabalhei em dancing e o ambiente era de respeito", atesta Maria Antonietta (em outra entrevista que estou guardando para uma reportagem especial).
Aproveitando o ambiente histórico de sua casa, frequentada, em sua época, por músicos e cantores como Braguinha, Orlando Silva, Jamelão, Mario Lago e Pixinguinha (dizem que foi ali que Pixinguinha tocou pela primeira vez Carinho), o Centro Cultural Carioca estreou dia 23/07 o espetáculo Dancing Eldorado. O roteiro, de Rodrigo de Roure e Isnard Manso, baseia-se em pesquisa histórica e em depoimentos de mulheres que frequentaram ou trabalharam nos dancings da época, relembrando cenas e músicas que escreveram parte da história dos costumes cariocas. O elenco conta com os integrantes da Cia de Dança do CCC e reúne um total de doze atores/dançarinos, oito músicos e três cantores. Direção de Marcelo Ribas (90 minutos de espetáculo).
Apresentações: domingos e segundas do mês de agosto e dias 2 e 3 de setembro. Informações: 2252-6468.
fotos (do site do CCC, http://www.centroculturalcarioca.com.br/):
1-Fachada do prédio no início do séc. XX. Em 1908 o prédio abrigou a Maison Rouge, loja especializada em moda feminina que tinha como atração os primeiros manequins de cêra vindos da Europa e que causavam sensação no povo daquela época. Uma das vitrines ainda existe no local.
2-Fachada atual do prédio.
3-Interior.
4-Momento do espetáculo, com Isnard Manso e Vivi Soares em primeiro plano.
5-Momento do espetáculo.
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